quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Uma Noite

Tema habitual de Mauro: a incidência no tempo e no espaço: a inexorabilidade do fortuito na vida de cada um. Seu pai jamais se encontrara com sua mãe. Ele próprio nascera cem anos atrás. Cada gesto, cada palavra, cada pensamento refletia-se nos outros, alterava-lhes a vida, comandava-lhes o destino.
em O Encontro Marcado, de Fernando Sabino

Penso na incompreensível sequência de mudanças que fazem uma vida.

em A Ilha, de Aldous Huxley


Há meses pretendo entrar no local. O bar parece sujo e mal frequentado, como se fora copiado de livro do Bukowski, mas provavelmente não há ninguém com pretensões literárias lá dentro. Ainda assim, devo confessar que minha vinda até aqui se deve a essas esperanças românticas de trocar uma noite deprimente sozinho em casa por uma possível aventura inesperada na madrugada. Essas que caem no nosso colo. Ou melhor, no colo dos personagens da literatura pulp. É começo da madrugada de sexta, e hoje eu vou entrar.

Timidamente empurro a porta. Há um velho atrás e outro à frente do balcão. O dono do bar e um bêbado. Mais ninguém. Decepção. Apesar de saber que o local é patético, o imaginei de outro jeito. Tipo strippers e caras que arrumam confusão, sabe? Algo sórdido e talvez miserável, mas com vida. Porém o que vejo, olhando para mim, é um velho com uma cara gorda de buldogue, parecendo o Hitchcock, e um bêbado franzino, arquétipo de apostador de cavalos. Que merda. Já que estou aqui...

“Me vê uma bebida, por favor.”

“Vai querer o quê? Já vou fechar”, diz secamente o Hitchcock.

“Serei breve. É só pra não perder a vinda. Me vê qualquer coisa. Dupla.”

Ele me traz uma cerveja. Eu nunca entendi bem esse negócio de “duplo”, mas duvido muito que essa cerveja seja dupla.

Estou sentado matando tempo. Geralmente é o que faço em casa, só que com mais conforto. Isso me faz pensar nos meus 25 anos. Enfim... Vim até aqui na esperança de que pudesse acontecer algo diferente, sei lá. Não que eu tivesse alguma indicação de que aqui seria o lugar para isso. Mas, quando não se tem muitos amigos, esse tipo de escolha se faz assim mesmo, sem muito critério.

A cerveja está quente e o copo, engordurado. Eu bebo. Na ponta do balcão, o bêbado parece catatônico, sonolento. O dono do bar, após me servir, se havia retirado para uma peça contígua ao balcão. Pareceu não ter receio em deixar o local. Deve saber que, ou ninguém mais chegará ao bar essa noite ou quem chegar será algum conhecido. A visita de um desconhecido – no caso, eu –, já é o suficiente para exaurir a cota da semana.

Isso está mesmo atirado. Na fachada relativamente larga, o neon, embora falhando em algumas letras, estava sempre pedindo atenção. Por fora, tem-se a impressão de que o lugar é maior e movimentado. Eu passo por aqui todas as noites, antes de ir para casa.

Enquanto termino essa cerveja, dou uma olhada mais precisa no ambiente. Na peça estreita, há o balcão com quatro bancos; ao lado, uma mesa de ferro enferrujada, dessas que estampam marcas de cerveja; no espaço que sobra, uma velha mesa de sinuca, tecido bastante puído e sujo, como tudo por aqui; do lado de lá do balcão, um armário empoeirado conserva bebidas que já eram para ter sido vendidas há tempos e, ao lado desse armário, a porta que dá para o recinto onde o dono do bar se retirou.

Ele volta e eu peço outra cerveja, imaginando que ele vai me mandar embora. Resignado, traz mais uma.

“E então, garoto, a noite não é das melhores?”, puxa assunto. Essa era uma dedução óbvia a se fazer para alguém que terminava a noite ali.

“Acho que não. Mas também não é das piores”, respondo apaticamente.

“O rapaz parece simpático. Talvez esteja precisando relaxar, Alfredo”, diz o bêbado ao dono do bar com um olhar malicioso. Percebi que está bem mais ligado do que aparentava anteriormente. Relaxar... Só falta esses velhos serem bichas. Ou traficantes.

“Melhor não”, responde o tal Alfredo, desconversando. “Você nunca veio aqui antes, não é?”

Digo que não, e eles trocam uma espécie de olhar cúmplice. Isso está ficando esquisito. Alfredo Hitchcock (isso é sério?) me olha estranhamente.

“Você esperava algo dessa noite, não?”, perscruta com certa maldade.

Nesse momento, espero apenas acabar logo essa bebida e chegar dignamente em casa.

“Acho que não”, digo, tentando encobrir o desconforto com aquela situação. “Só vim beber uma.”

“Pois já está na segunda”, graceja o cachaceiro lucidamente. “Olhe, garoto, não precisa ter medo. Talvez nós tenhamos uma coisinha pra sua noite.”

Os dois me encaram. Eu tenho medo. Eu poderia estar em casa agora, como sempre faço. Eu sou um merda.

O dono do bar se aproxima para me fazer uma proposta.

Eu tenho medo de ouvir.

Eu tenho de ouvir.

Eu ouço.

O velho me diz que não mora sozinho.

Eu digo hum.

Ele me conta que vive em cima do bar, junto com a filha.

Eu fico curioso.

Ele me fala que, por cem reais, ela fará o que eu quiser.

Eu não sei o que pensar.

Ele diz, como trunfo, orgulhoso, que a filha tem 16 anos.

E eu volto a sentir medo.

“O que você quiser”, ele repete, os olhos brilhando.

Nos meus olhos, há uma certa insegurança; no meu bolso, seguramente mais do que cem reais.

Bem, ela fará o que eu quiser, eu penso. Ainda não sei bem o que quero, mas resolvo aceitar. O velho parece aliviado. Agora somos cúmplices, deve estar pensando. Ele diz que vai falar com ela e entra na porta ao lado do balcão. Volta uns dois minutos depois.

“Vem aqui.”

Contorno e balcão e entro na salinha, pequena, dois gatos sujos deitados sobre um blusão velho. Há uma escada em formato de caracol. Estou em silêncio, aguardando orientações.

“Ela tá lá em cima te esperando. Não precisa ter pressa.”

Subo e bato à porta. Quem responde é o velho, lá de baixo, dizendo rudemente para eu entrar. Entro suavemente, como quem não quer atrapalhar. Que ironia...

A menina está com a cabeça baixa, sentada na cama. Levanta aos poucos os olhos pálidos e opacos que, ao me fitarem, parecem ganhar algum brilho. Ao lembrar do velho bêbado e sujo com jeito de apostador, o perfil comum dos frequentadores daquele bar, eu entendo o porquê; e eu percebo, também, que aquele é o único cômodo habitável do prédio, poucos móveis, um fogão, uma única cama de casal. Velho escroto.

Ela tem uma aparência toda frágil, mas bonita. Magrinha, cabelo liso e escuro, tal qual os olhos, pele esmaecida, usa um short e uma blusinha, deixando a alvura do corpo à mostra. Nenhuma maquiagem. Tranco a porta. Agora, ela fará o que eu quiser.

*

Já estou cerca de cinquenta minutos dentro do quarto, e o Hitchcock começa a socar a porta. Agora estou mirando firmemente nos olhos dela, perguntando se confia em mim.

“Faço qualquer coisa”, ela responde. O velho estava certo. Peço só mais dez minutinhos. Ele concede.

*

Dois anos depois e estou aqui no sítio que era do meu pai (agora cedido a mim), onde vivo desde que tudo isso aconteceu. Na varanda em frente à casa, deitado na rede, ouço passos vindo em minha direção, acompanhado de um forte cheiro de perfume que se confunde com o aroma bucólico da grama recém cortada à minha frente.

“Vou fazer algo pra comer”, ela se aproxima secando o cabelo. “Quer alguma coisa?”

“Qualquer coisa”, eu digo.

“O que você quiser”, ela insiste, um sorriso terno enfeitando o seu rosto. E eu tento imaginar a cara do velho quando, depois de insistir em vão naquela porta, resolve enfim entrar: o quarto vazio, a janela escancarada, duas notas de cinquenta sobre a cama.

E eu penso na força das escolhas ao acaso que dão corpo aos nossos destinos; na maleabilidade do deslocamento entre o favorável e o desfavorável das nossas vidas; em como, espantosamente, uma fortuita noite estranha ou cem reais bem investidos podem, eventualmente, salvar duas existências.


O sol desce e os pássaros já estão aconchegados às árvores, fazendo-se ouvir o seu coral de todo fim de tarde. A brisa chega refrescante, sugerindo mais uma agradável noite de primavera.

sábado, 28 de novembro de 2009

Luzes e Trevas

"A luz e as trevas estão misturadas no caos do homem."
Alexander Pope



Há poucas semanas, houve um apagão que deixou às escuras boa parte do país. Esse tipo de situação inusitada traz consigo as mais diversas possibilidades e, consequentemente, nos lega algumas histórias para se contar e ouvir com total atenção e, em alguns casos, tensão. O que lhes vou narrar agora pode, aos olhares mais céticos, ser tido como mera invenção literária, em virtude do seu teor. Quem me contou, no entanto, garante que o referido é verdade e dá fé. Para que esse acontecido tão incrível não se torne uma vulgar lenda urbana, daquelas que vão se modificando de destino em destino, tentarei repassar aqui o que me foi dito da forma mais fiel possível. A identidade dos envolvidos será preservada.

Naquela noite de terça-feira, em um bairro de classe média da cidade de São Paulo, H., professor universitário de uma faculdade privada, estava sozinho em seu apartamento, como na maioria das noites anteriores nos últimos seis anos - época em que se separou. Não morava sozinho, entretanto. Vivia com a filha, que deixou a mãe no interior a fim de estudar na capital. Nesse dia, a menina estava na casa de uma amiga. Estava sempre na casa das amigas. Isso não incomodava H., de modo algum. Acostumara-se (ou resignara-se) à rotina: gostava da privacidade de ficar sozinho. Professor do curso de Letras, aproveitava as noites taciturnas no grande apartamento vazio para ler. Depois de ter jantado, relia Ensaio sobre a Cegueira, do Saramago, pois na semana seguinte faria uma palestra sobre a obra em um congresso de literatura, em Curitiba. Foi quando faltou luz. Seguiu sentado na poltrona onde lia, esperando que a energia voltasse. Cerca de quinze minutos depois, pensou em dizer à filha para que ela não viesse naquele momento, devido à escuridão na região. Ao telefonar-lhe, ficou sabendo que o bairro onde ela se encontrava estava na mesma situação, e que o mesmo acontecera em outros estados: um apagão geral. A jovem disse, também, que provavelmente dormiria na casa da colega, e, caso fosse voltar, o noivo da amiga a levaria de carro. Que o pai, portanto, não se preocupasse.

H. deitou-se no sofá. Não havia forma melhor de gastar as horas, naquele caso, do que dormindo. Chegou a cochilar por algum tempo, mas acordara e não tinha mais vontade de dormir. Sentado, esperando o tempo passar, ouviu um grande barulho, algo como um tiro, que, teve a impressão, veio de dentro do edifício. Parece não ter sido o único a reagir ao barulho: portas abrindo e pessoas caminhando pelo corredor foram os sons que se seguiram. Decidiu ir ver o que era. Saiu no corredor, onde um vizinho ia à portaria, também curioso com a situação. Foi atrás, tendo de descer seis andares pelas escadas, guiando-se pelo som, pelo tato e pelos feixes de luz das lanternas dos outros, pois não gostava de acessórios: é do tipo que jamais usa guarda-chuva, por exemplo. No meio do caminho, topava com outros vizinhos curiosos, alguns assustados. Gostava da situação: num momento, estava tendo uma noite rotineira, que ficou ainda mais tediosa devido à falta de luz; noutro, passava a viver naquele clima de comunhão e mistério. Pensou na ironia de, naquela noite, momentos antes, estar lendo Ensaio sobre a Cegueira.

A verdade é que esse tipo de evento, que foge do comum e aproxima pessoas que normalmente não se relacionariam, sempre atraiu e habitou o imaginário de H., quase como uma espécie de fetichismo. No apagão aéreo, três anos antes, passara uma noite inteira com desconhecidos, no Aeroporto da Pampulha, em Belo Horizonte, tendo de dormir nos bancos, comer sentado no chão e aquela coisa toda. Ouvia as pessoas protestando: isso é um absurdo!, nós não somos palhaços!, exigimos uma solução definitiva! Juntava-se a elas e proferia toda sorte de reclamações. Que não eram sinceras, na verdade. Por ele, que aquilo tudo durasse até um pouquinho mais. Se gostava de apagões? Não. Gostava da integração peculiar que esse tipo de circunstância proporcionava, acabando com a distância entre ele e as outras pessoas. E melhor: pessoas que não se conheciam ou não se relacionavam. H. era do tipo que gostaria de ter vivido uma situação como a do seriado Lost, caindo com um avião repleto de desconhecidos em uma ilha deserta; era do tipo que gostaria de ter namorado com uma mulher que teria conhecido ao ficarem presos no elevador. Dizia a seus alunos "que são as experiências novas que alimentam o espírito", frase que certa vez ouviu num filme, mas que não fazia esforço por seguir - gostava das experiências novas que se impunham a ele.

Chegou à portaria. O barulho das pessoas falando e uma luz inconstante vermelha, vindo da rua e adentrando a portaria, chamaram sua atenção. Era a luz de um carro de polícia. Perguntou para uma vizinha, uma velha baixinha, daquelas que sabem de tudo que se passa no prédio, o que havia acontecido: um morador chegava no edifício quando foi assaltado. Os ladrões, assustados ao perceberem a lanterna do porteiro, atiraram e correram. A bala foi na parede. Nada aconteceu. Durante mais alguns minutos, a polícia ficou ali coletando informações do porteiro. A maioria das pessoas - umas 20, talvez - continuava no hall do edifício. H. espreitava as conversas. Um vizinho disse ter ouvido no rádio de pilha que a energia poderia demorar dias a voltar, devido a "queda de umas torre em Foz do Iguaçu". Outra, disse que sempre suspeitou que o rapaz que sofrera a tentativa de assalto traficava drogas de dentro do prédio, e que aquilo era "coisa encomendada, briga de traficante". A polícia foi embora, enquanto os moradores iam voltando aos poucos para seus apartamentos. A dispersão foi razoavelmente lenta, pois muitos estavam conversando. Reclamando, na verdade, junto à síndica: o recém instalado novo sistema de lâmpadas de emergência dos corredores e das escadas, pelo qual todos haviam pago, não funcionara. H., dessa vez, não prestou muita atenção: ficou de conversa com o porteiro, com quem gostava de falar sobre futebol. O hall foi se esvaziando cada vez mais, já alta madrugada.

Por fim, H. estava só com o porteiro. Resolveu ir dormir. Despediu-se e seguiu em sua jornada, subindo degraus e tateando o desconhecido, pelas escadas e corredores vazias, amendrontadoramente silenciosas e escuras. O porteiro havia oferecido uma lanterna, mas H. disse que aquilo era frescura. O porteiro o olhou como se ele fosse um imbecil. Quando estava no terceiro andar, H. passou a ouvir sons de madeira, secos e contínuos, vindos de baixo, ecoando pelo corredor. Parou. Ouviu com atenção. O barulho ficava cada vez mais próximo e nítido. Era alguém caminhando, subindo as escadas. A julgar pelo som, provavelmente uma mulher de salto alto. Era uma situação parecida com a de conhecer uma mulher em um elevador parado. Como não tinha nada a perder, resolveu parar e esperar a pessoa aparecer, sabe-se lá por quê. Não sem, contudo, ficar nervoso. O som da batida do salto no chão - agora já não há mais dúvida -, a medida em que se tornava mais alto e nítido, acelerava as batidas do coração de H. Ele a esperava na bifurcação da escada, na altura do terceiro andar. Viu surgir uma fraca luz. H. parou de costas: teve medo de se identificar, julgando que assim poderia ficar envergonhado e perder uma oportunidade daquelas. Percebeu a luz se aproximando ainda mais. Ao fazer a curva na escada, a mulher topou em H., tomando um susto. A luz era de um celular que a guiava e que acabou caindo no chão, deixando-os no mais completo escuro. H. sentiu aquele corpo magro de mulher batendo nele e, tomado de coragem devido ao anonimato, seduzido pela situação, virou-se, puxou-a para si com força (decidido, pois sabia que se não agisse impetuosamente daria para trás) e a beijou. Para sua surpresa, a desconhecida correspondeu a suas investidas, demonstrando tanto ardor quanto ele. Beijavam-se, agarravam-se, respiravam um o outro. H. passava as mãos no corpo dela de forma dura, quase como um animal. Ela, que estava completamente pressionada, quase amalgamada à parede, puxava-o, mesmo assim, para junto de si, como se eles pudessem se unir em um só, como se o abraço (ou o amasso) mais apertado não fosse o bastante.


Aquela situação toda poderia ter feito com que ele pensasse em Platão, na alegoria da caverna - a origem da famosa simbologia entre luz e razão. A escuridão, a falta de luz, foi a oportunidade para que ele deixasse de lado o que a civilização nos impõe e agisse instintivamente, de forma totalmente inadequada para o que se espera da conduta de um respeitado professor universitário. Poderia, também, ter tentado imaginar quem seria a misteriosa devassa da escuridão. Teria pensado em uma nova vizinha, recentemente jovem (conseguira perceber que era aparentemente jovem, a moça do corredor), que tinha se mudado havia pouco tempo, recém casada, e que ele a havia flagrado lançando olhares convidativos - ou ao menos assim entendera, o professor. Poderia ter pensado nessas coisas. Mas não pensou. E alguém pensaria? Aliás, com o sangue disponível para circulação em seu cérebro, naquele momento, não conseguiria nem jogar o Jogo da Velha. Não pensou em nada.

Mordia os seios da moça, por cima da blusa. Ela, já em frêmitos, gemia suavemente, quando sentiu a mão de H. deslizar pelo seu corpo hirto até chegar à sua calça jeans. Ele, trêmulo mas decidido, tentava abrir-lhe a calça. Foi nesse momento que tudo aconteceu. Ouviu-se um estalo anunciando a volta da luz. Se houvesse tempo para se assustar, os dois amantes anônimos certamente se assustariam, afinal, não tinham como saber o que veriam, e sabiam que aquele momento era fatídico, quisessem ou não. A verdade é que aquela ocasião incrível, única, ímpar, acabaria quando a luz voltasse. O fim daquilo tudo poderia ser encarado como uma tragédia, pois se tratava do fim de um evento mágico. Mas, pelo contrário, talvez a luz, naquele exato momento, os tenha salvo da mais completa desgraça, mesmo lhes trazendo a visão das trevas. Certamente nem eu nem quem me lê poderia imaginar a cena que vou descrever: tente visualizar um rosto pálido, assustado, congelado, de um homem que enxerga na sua frente - encostada em si com a blusa aberta, a boca vermelha e inchada, os olhos duros, envergonhados, incrédulos - a expressão pétrea e trágica, enfim, da própria filha.